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A caça às bruxas foi um movimento de perseguição religiosa e social iniciado no século XV, atingindo seu apogeu nos séculos XVI a XVIII, principalmente na AlemanhaEscandináviaInglaterraEscóciaSuíça e, em menor escala na PolôniaRússiaFinlândiaIslândiaIrlandaFrançaPenínsula IbéricaItália e, Império Habsburgo. O livro mais expressivo sobre é chamado de "Martelo das Feiticeiras" (do latim: Malleus Maleficarum) de 1487.

Atualmente, o termo “caça-às-bruxas” se refere a qualquer investigação geralmente conduzida com muita publicidade, supostamente com o objetivo de revelar atividade subversiva, como por exemplo a corrupção, mas que busca enfraquecer a oposição política.

Índice

Relação da sociedade com a bruxaria ao longo da História[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Caça às bruxas

Antiguidade 4000 a.C - 476[editar | editar código-fonte]

O castigo contra feiticeiros maléficos já existia em muitas sociedades antigas, leis antifeitiçaria apareciam nos primeiros códigos legais preservados; Tanto no Egito como na Babilônia, desempenhou um papel conspícuo. O código de Hammurabi de cerca do ano 1800 a.C., prescreve que:

"Se um homem lançou um feitiço a outro homem e não se justificar, deve mergulhar no rio sagrado. Se ele se afogar, o acusador tomará posse de sua casa, mas se o rio declará-lo inocente, o acusador será morto e aquele que mergulhou deve tomar posse de sua casa""[1][2]

A Bíblia hebraica condenava a feitiçaria. Deuteronômio 18:10-12 declara "Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti". E Êxodos 22:18 prescreve "A Feiticeira não deixarás viver;"[3] contos como o de 1 Samuel 28, relata como Saul "cortou os que têm espiritos familiares e os magos da terra"

Em 451 a.C., as Doze Tabuas do direito romano tinham provisões contra encantamentos e feitiços mal intencionados que podiam danificar culturas de cereais. Em 331 a.C., 170 pessoas foram executadas como bruxas após uma doença epidêmica desconhecida ter atingido a Itália Central.

Em 186 a.C., o senado romano emitiu um decreto restringindo severamente as celebrações a Lucifer, deus das bruxarias.[4] Conseqüentemente à proibição, em 184 a.C., cerca de 2.000 pessoas foram executadas por bruxaria (veneficium) e entre os anos 182 -180 a.C., outras 3.000 execuções ocorreram,[5] novamente desencadeada pelo surto de uma epidemia.

Em 81 a.C., o cônsul romano Sula promulgou uma lei que proibia o comércio e posse de drogas nocivas, venenos, livros mágicos e outras parafernalhas ocultistas. EstrabãoCaio Cílnio MecenasDião Cássio e muitos outros confirmaram a tradicional oposição dos antigos contra a bruxaria e adivinhação.[6][7] Nessa mesma época, um clérigo israelita chamado Semeon ben Shetach condenou a morte 80 mulheres que haviam sido acusadas de bruxaria em um único dia na cidade de Ascalão. Mais tarde, os parentes das mulheres se vingaram trazendo falsas testemunhas contra o filho de Semeão, fazendo com que ele fosse executado. Nesse tempo, esse tipo de situação já ocorria.

O historiador Suetônio refere que o Imperador Augusto mandou queimar publicamente mais de 2 mil livros de bruxaria, escritos em latim e grego, que confiscou em Roma no ano 31 a.C.[8] O imperador Constantino, decretou entre 317-319 leis de combate a bruxaria, lei que depois foi incorporada no código do imperador Teodósio: "Esses homens que praticam a magia e dos quais se tenha demonstrado que conspiraram contra a segurança dos indivíduos, ou que transformaram em seres lúbricos espíritos até então virtuosos, serão castigados e corrigidos como merecem pelas mais severas leis".[9] Em 354 da era cristã, enquanto Tiberius Claudius era imperador, 45 homens e 85 mulheres, todos suspeitos de feitiçaria, foram executados.[10]

A caça às bruxas continuou até o final do século IV (301 - 400), quando o católicismo se tornou religião oficial do Império Romano na década de 390's. O desejo da Igreja Católica de inibir a caçada de bruxas aparece nos concílios de Elvira (306) e Ancira (314), que impuseram certas penitencias eclesiásticas suaves.[11]

Idade Média arcaica 476 - 800[editar | editar código-fonte]

Esse ceticismo ficou explicito nos decretos de Trullo em 692 e Paderborn em 785 que proibia as pessoas de dedurar bruxas e condenou a morte aqueles que pensavam em queimar bruxas. O código lombardo de 643 dizia:

"Que ninguém pretenda matar alguém ou uma estrangeira como bruxa, pois não é possivel, nem deve ser acreditado por mentes cristãs"[12]

O Concílio de Frankfurt em 794, convocado por Carlos Magno, também foi muito explícito ao condenar a perseguição de supostas bruxas, chamando a crença na bruxaria "supersticiosa" e ordenando a pena de morte para aqueles que presumiam queimar bruxas.[13] Outros exemplos incluem um sínodo irlandês em 800,[14] e um sermão de Agobard de Lyon (810).[15]

Alta Idade Média 800 - 1200[editar | editar código-fonte]

 

Ulricus Molitoris.

Durante a Alta Idade Média, o ceticismo em relação as bruxas aumentou. No ano 906, século X (901 - 1000), uma lei canônica da Igreja afirmava que é heresia acreditar em bruxas e bruxarias e que essa crença popular era coisa de pagão.

O rei Kálmán (Colomão) da Hungria, no Decreto 57 de seu Primeiro Livro Legislativo (publicado em 1100), proibiu a caça às bruxas e disse: "as bruxas não existem".[16]

O "Decretum" de Burchard, Bispo de Worms (1020), especialmente o seu 19º livro, é outro trabalho de grande importância. Burchard estava escrevendo contra a crença em poções mágicas, como por exemplo, que podia provocar impotência ou aborto. Este também foi condenado por vários Padres da Igreja.[17] Mas ele rejeitou também a possibilidade de muitos outros poderes alegados das bruxas. Tais, por exemplo, voar com uma vassoura mágica nas noites de sábado, mudar a disposição de uma pessoa do amor para o ódio em relação a outra pessoa, o controle do trovão, da chuva e do sol, a transformação de pessoas em animais, a relação sexual de incubis e succubis com seres humanos e entre outros. Não só a tentativa de praticar tais coisas, mas a própria crença em sua possibilidade, é tratada por Burchard como falsa e supersticiosa.

O papa Gregório VII, em 1080, escreveu ao rei Haroldo III da Dinamarca, proibindo que as bruxas fossem mortas por presunção de terem causado tempestades, fracassos de colheitas ou pestilências. Nem estes foram os únicos exemplos de um esforço para evitar a suspeita injusta a que tais pobres criaturas poderiam ser expostas.

Em muitas ocasiões diferentes, os eclesiásticos que falaram com autoridade fizeram o seu melhor para desiludir o povo de sua crença supersticiosa em feitiçaria. Este é, por exemplo, o sentido geral do livro, Contra insulsam vulgi opinionem de grandine et tonitruis, escrito por Agobard (d. 841), Arcebispo de Lyons ("Contra a crença tola do tipo comum em relação ao granizo e ao trovão".

A partir de então, mulheres que praticavam curandeirismo e benzedorismo passaram a ser uma das figuras mais respeitadas na sociedade Medieval, principalmente nas áreas rurais, chamadas de “mulheres sábias” em todo o continente europeu. Eram geralmente viúvas ou solteiras, com enorme conhecimento de ervas medicinais. Embora fossem pessoas miseráveis, tinham grande prestígio social, pois serviam como faz-tudo: parteiras, adivinhas, terapeutas, enfermeiras, médicas e entre outros.

Por outro lado, pessoas que praticavam magia negra, góetica, enoquiana e outros, também aproveitaram essa época dourada e tolerante para as praticas mágicas e ocultismo. Fazendo valer seus caprichos, amaldiçoando inimigos e enfeitiçando amantes.

Baixa Idade Média 1200 - 1500[editar | editar código-fonte]

 

Os períodos de fome e peste do século XIVdisseminaram a ideia de que pessoas conspiravam contra os reinos cristãos.

 

Queima de uma bruxa na fogueira na localidade de Willisau, Suíça (em 1447).

Em 1230, a inquisição episcopal (1184 - 1230) é substituída pala inquisição papal. Eram tribunais eclesiásticos para identificar hereges, oficializado em 1233. Houve muitas acusações contra clérigos e outras pessoas instruídas que eram capazes de ler e escrever livros de magia.

Na França, um bispo foi executado por usar a feitiçaria na tentativa de matar o papa João XXII. Em 1326, esse mesmo papa emitiu a bula Super Illius Specula, na qual a bruxaria passou ao rol de heresia já que, segundo implicavam em pactos demoníacos e infidelidade com a fé cristã.[18] Mas para alguém ser considerado bruxo precisava ter cometido alguma infração ou crime, como ter feito pacto com o diabo, copular com ele e ser culpado de horríveis atrocidades, como devorar crianças.

Nos anos seguintes foram mais silenciosos, mas a partir das décadas de 1350's, 1360's e 1370's, na parte central da Europa, começaram a surgir rumores e pânico acerca de conspirações malignas que estariam tentando destruir os reinos cristãos através de magia e envenenamento; falava-se de conspirações por parte dos turcos otomanos e de associações entre judeus e leprosos ou judeus e bruxas. Os judeus que por toda Idade Médiativeram liberdade de religião começaram a ser vistos com desconfiança pela população. Depois da enorme devastação decorrente da peste negra (que vitimou 1/3 da população européia em meados do século XIV) esses rumores aumentaram e passaram a focar mais em bruxas e "propagadores de praga". Depois da Peste também se espalhou aquela ideia de que o banho frequente desprotegia a pele e trazia doenças para o corpo através da água, que era supostamente contaminada por conspiradores.

Em 1376, é publicado o livro Directorium inquisitorum pelo teólogo e inquisidor catalão Nicolas Eymerich, definiu a bruxaria e descreveu os meios para descobrir e reconhecer as bruxas. Em 1398, a universidade de Paris declarou que o pacto demoníaco não precisava de nenhum documento assinado, pois o simples ato de convocar um demônio constituiu um pacto implícito.

Entre os anos 1376 e 1435, o ritmo de julgamentos aumentou de modo significativo[19], e entre os anos 1436 e 1500, o número de julgamentos por bruxaria na Europa agora é, em média três vezes maior do que no período 1376 - 1435[20].

Entre 1435 e 1437, o teólogo alemão Johannes nider escreveu um tratado em forma de diálogo, o Formicarius que só foi publicado pela primeira vez em 1475. Dizia que as feiticeiras eram parte de uma espécie de seita demoníaca.

Por intermédio da bula de 5 de dezembro de 1484, o papa Inocêncio VIII ordena uma investigação acerca da bruxaria, com vistas a definir os sinais pelos quais se poderia reconhecer o pacto do indivíduo com o diabo e aboliu a lei canônica de 906.

Em 1487 foi lançado o livro Malleus Maleficarum, pelos inquisidores Heinrich Kraemer e James Sprenger, o livro nunca foi aprovado pela Igreja Católica Romana e acabou sendo inserido no Index Librorum Prohibitorum, tendo seus dois autores sido posteriormente excomungados por continuarem publicando-o. Mas a partir dos anos 1520's, ocorreu a reforma protestante e a maré começou a mudar, pois os reformadores acabaram aceitando a "Bíblia do caçador de bruxas". Com 28 edições esse volumoso manual define as práticas consideradas demoníacas. Ele se torna uma espécie de bíblia da caça às bruxas e vai ter grande influência do outro lado do Atlântico no século XVII (1601 - 1700) sobre as comunidades puritanas nos Estados Unidos, tendo sido utilizado no famoso caso das bruxas de Salém. Com a popularização do manual martelo das feiticeiras depois do ano 1500, o número de julgamentos e execuções aumenta vertiginosamente.

Idade Moderna 1500 - 1800[editar | editar código-fonte]

As Caça às Bruxas na era moderna que varreu o centro e norte da Europa, aconteceu em um mundo sacudido pela reforma protestante, assolado pelas guerras religiosas e políticas e fustigada pela fome e pela doença. Esse é o período mais sanguinário da história, que atingiu tanto terras católicas como protestantes e ocorreu principalmente entre os anos 1550 e 1700.

O conceito de "bruxa" passou a ser bem mais amplo. Curandeiras e benzedeiras passaram a ser alvo fácil, já que as autoridades não via mais distinção entre bruxas/feiticeiras, curandeiras e benzedeiras. Passou a ser difícil distinguir suas especificidades, pois todas estavam ligadas a magia e ao uso de ervas medicinais. Até o final da Idade Média, essa diferenciação estava bem clara, pois acreditavam que as bruxas enviavam o mal, enquanto as curandeiras o sanavam. Na Idade Moderna, no entanto, essa diferença desapareceu e milhares de pessoas inocentes foram torturadas e mortas. Muitas pessoas foram julgadas e mortas por denúncias de vizinhos invejosos que viam os outros prosperarem frente ao colonialismo e ao mercantilismo, enriquecer era perigoso. Em alguns casos, também se verificou alegações falsas de prática de bruxaria e de estar possuído pelo demônio, com o fim de se apropriar ilicitamente de bens alheios ou como uma forma de vingança.

A partir da década de 1660's, os julgamentos começaram a diminuir graças a expansão do Iluminismo que nasceu no início dos anos 1600's. Em alguns países como a Polônia, o auge da caçada foi entre 1670 e 1730 (século XVIII). A Inglaterra foi o país com maior porcentagem de mulheres entre os executados, mais do que em qualquer outro país: 90%[21] Segundo estimativas recentes entre 500 e 1.000 pessoas foram executadas por bruxaria na Inglaterra.[21]

Estudiosos estimam que entre 40 e 60 mil pessoas foram executadas como "bruxas". As elites deixaram de acreditar em bruxaria com o Iluminismo, mas continuou fazendo parte da cultura popular e uma parcela da população continuou temendo as bruxas. Linchamento de suspeitos de feitiçaria passaram a ser comum a partir de 1750, principalmente em países de religião protestante e houve casos de perseguição até meados do século XIX (1801 - 1900).

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